Qual Pessoa Mais lhe Inspira?

A resposta para essa pergunta sempre foi um problema para mim. Durante os meus seis anos na Universidade não pude atribuir à ninguém esse título, o de fonte de inspiração, uma pessoa que admirasse tanto o trabalho, que me fizesse desejar ou almejar conquistar e seguir os mesmos passos. Mas hoje, é com muita felicidade e orgulho que respondo: a pessoa que mais me inspira é Alexander von Humboldt.

Na verdade, a última coisa que queria ou passava pela minha cabeça era trabalhar em qualquer uma daquelas áreas, ou até mesmo com Geologia. Invejava meus colegas que pareciam tão certos do que queriam, enquanto me sentia completamente perdida.

Afinal, é possível amar tanto algo e não se ver vivendo daquilo?
Eu amo a Geologia.

A minha vida como universitária foi dolorosa. Repleta de decepções, desilusões, de questionamentos, arrependimentos. Às vezes, tinha certeza que havia escolhido o curso certo, porque amava aprender sobre a Terra, outras me via muito mais feliz e bem sucedida profissionalmente fazendo algo completamente diferente…

Me vi cursando a minha segunda o opção no SISU, Odontologia.
Me vi sendo uma Engenheira de Produção e pondo em prática todos os meus projetos de melhorias para empresas e pequenos estabelecimentos, nossa, como eu seria boa nisso, amo resolver problemas, pensar em soluções.
Por que não fiz Matemática? Amo os números, sinto tanta saudade de resolver equações que parecem complicadas demais.
Será que me enganei?
Será que deveria ter cursado Direito e trabalhado como uma advogada tributária? Não, acho que Relações Internacionais combina mais com o meu perfil, sou tão boa com línguas, quando viajo as pessoas nem percebem que sou brasileira, sempre me dizem: “I’m sorry, but where are you from exactly? I can’t tell if it’s England or Australia”. Não, não, muita burocracia, eu não teria paciência para lidar com política ou pessoas. Fui, definitivamente, feita para as ciências exatas. Mas e se a minha mãe tivesse deixado eu entrar para a Escola de Belas Artes, poderia ter me tornado uma grande artista.
Meu Deus, são tantas opções, e todas elas me encantam de alguma forma! Respira, Thaís, você precisa terminar o que começou, ou todos aqueles professores que disseram que você seria uma ninguém vencerão.
Perdão, esqueci de dizer, também não foi nada fácil crescer com TDAH.

Mas vejam bem, minha vida não foi muito fácil no início, mas foram por conta das circunstâncias singulares nas quais cresci que me possibilitaram ser quem sou hoje.

E acho que a mais importante de todas, o assassinato de meu pai. Sim, sim, muito doloroso, é muito difícil a vida de uma criança que cresce sem um dos pais, ou pior, sem ambos. Mas, além disso, a vida de uma mãe viúva com duas filhas pequenas para criar e alimentar sozinha. Nossa, como eu penso nisso, e sei que sou uma pessoa mais sensível, mais amorosa, mais humana, que muitas outras, por conta disso.

Entendam, por muito tempo, minha mãe era a primeira pessoa que vinha à minha cabeça quando me faziam a pergunta que fiz à vocês. Até conhecer Alexander von Humboldt. Minha mãe será para sempre minha heroína, mas eu e Alexander temos tantas coisas em comum, estaria mentindo para mim mesma negando isso.

Bom, para começar, a infância de Humboldt também não foi fácil, ele também teve o seu potencial questionado. Perdeu o pai aos 9 anos, tendo a sua família reduzida à mãe e ao irmão, 2 anos mais velho que ele, e olha que engraçado, eu tenho uma irmã dois anos mais velha! E vocês podem estar pensando que por ter sido criado só pela mãe, ele tenha crescido em um lar repleto de amor e carinho mas não, não foi bem assim, sua mãe era uma pessoa fria e muito preocupada com a educação de seus dois meninos, nesse ponto, muito parecida com a minha.

Ao contrário dele, não nasci em uma família rica, não tive professores particulares e também não fui obrigada a ter uma educação conjunta a de minha irmã, ou seja, pular duas séries, mas ainda sim era tão rígida quanto a dele.  Mas, eu e ele tínhamos a mesma dificuldade e falta de interesse pelos estudos e preferíamos passar nosso tempo em um bosque, coletando insetos e plantas, a diferença é que Humboldt realmente podia escapar e ficar no bosque, eu me contentava com sonhar acordada e passar as tardes no quintal da vizinha.

As coincidências não acabam por aí, Alexander era sustentado por sua mãe, consequentemente, era obrigado a obedecê-la, trabalhar e estudar aonde ela achasse mais conveniente. Minha mãe não deixou eu entrar para a EBA, mas não pode me parar quando decidi estudar Geologia, afinal, um geólogo pode ganhar muito bem.

Humboldt estudou Geologia, e excedeu todas as expectativas para uma pessoa de sua idade, mas ainda se sentia infeliz e solitário, assim como eu durante a minha graduação. Nós dois temos isso de querer saber sobre tudo, entender, aprender, todas as áreas de estudo nos interessam, principalmente, ciência, arte e línguas. Mas só isso não é o suficiente, precisamos vivenciar, conhecer e explorar! Se preparem para o que eu vou dizer agora, porque, provavelmente, vocês irão achar que inventei tudo isso, mas é a verdade, podem ler a Biografia dele.

Alexander e eu herdamos uma herança e com esse dinheiro decidimos viajar pelo mundo. A diferença é que a dele era grande o suficiente para pagar uma expedição de 5 anos, e a minha algumas viagens, somadas às minhas economias.

Humboldt levou consigo uma caderneta de campo, e eu perguntas, ele sabia exatamente o que queria fazer, onde deveria estar, enquanto eu estava tentando me encontrar. Mas por mais absurdo que pareça, nós dois chegamos às mesmas conclusões:

“A natureza precisa ser conhecida em primeira mão e vivenciada por meio dos sentimentos”.


“Nessa grande cadeia de causas e feitos, nenhum fato pode ser considerado de forma isolada”.

E mais uma, que para muitos de nós é óbvia e para outros um absurdo. Mas a primeira pessoa a observar isso foi ele, Alexander von Humboldt.

Os humanos estão interferindo no clima e isso pode ter um impacto imprevisível sobre as “futuras gerações”.

No caso, nós.

Poderia continuar falando sobre ele, sobre mim, sobre nós e nossas coincidências. Mas o meu objetivo é outro. Costumo escrever textos como esse e guardá-los para mim. Mas estaria sendo extremamente egoísta se não compartilhasse, parte da história dele com vocês.

Não quero permitir que mais ninguém se sinta como eu me sentia antes de conhecê-lo, só.

Humboldt está morto, mas sua história vive, suas descobertas e livros estão aí para serem lidos. Sinto que tenho o dever de continuar ou contribuir de alguma forma para com o seu legado. Talvez já esteja caminhando em direção a isso, quando penso em seguir a minha carreira na área de mudanças climáticas. Mas acredito que posso fazer mais, nós podemos fazer mais, nos importar mais.

Nossa, como eu gostaria de ter conhecido esse cara, ter vivido na mesma época que ele, ter participado de uma de suas expedições. Nada disso é possível, mas me contento em criar novas histórias, como as dele, inspiradoras. 

Looking for Kindred Spirits. 

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