Gosto de pensar que sou livre, como um pássaro, que tenho tanta liberdade quanto eles para voar por aí, mas será mesmo?
“Mostrar os seios está sendo libertador?” Libertador é quem liberta. Quem está sendo libertado? O que é liberdade?
Para responder essas perguntas recorri a uma breve pesquisa no Google e dentre as várias dimensões e conceitos filosóficos a respeito da liberdade, dois trechos do texto de uma mesma autora me chamaram à atenção:
“Friedrich Nietzsche acreditava que o pensamento racional não é superior às sensações e experiências. Ele também dizia que existem limites para o livre-arbítrio e o homem não faz sempre o que quer. Para ele, nenhuma ação é totalmente livre porque a escolha ou o desejo de algo são condicionados às condições da natureza, às regras e eventos de uma sociedade, a relações de poder e interpretações sobre o mundo.⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Para Hannah Arendt, a liberdade plena não seria uma experiência solitária com o próprio eu, mas se daria na relação com os outros. Só sou livre se o outro também for. A liberdade manifesta-se na dimensão “externa” da pessoa diferenciando-a da liberdade interior. Uma condição que seria “conquistada” a partir de uma postura ética com o bem comum. “Tomamos inicialmente consciência da liberdade ou do seu contrário em nosso relacionamento com os outros, e não no relacionamento com nós mesmos”.“
Dentre as várias concepções sobre a liberdade essas duas são as que mais fizeram sentido para mim, em relação à liberdade do meu corpo. E porque não me sinto libertada quando vejo uma mulher com os seios de fora.
Porque as minhas condicionantes da “ação livre” de Nietzsche são diferentes das mulheres que mostram os seios. E essa é a verdade. O meu corpo não é igual ao de uma mulher branca.
Por muito tempo desejei ter seios menores e um quadril menor porque me sentia extremamente desconfortável e triste com os assédios na rua, com o fato da minha aparência estar sempre em foque, e importar mais do que a minha essência.
Até o final de 2018 evitava ao máximo postar fotos de biquíni, não por me sentir insegura com o meu corpo, mas sim por considerá-lo vulgar. Me sentir mal ao receber um elogio. Porque no fundo, para mim, o “que gata”, “linda”, “gostosa” soava mais como um assédio do que como um elogio.
Hoje entendi porque só tive coragem de fazer topless na Bahia uma única vez: porque no dia que fiz não tinha mais ninguém na praia, além de mim e minha amiga.
Enfim, cheguei às seguintes conclusões:
1. Ver uma mulher com seios de fora não me liberta, e não vai importar se ela for branca ou negra, porque alguma das “condicionantes” dela ainda serão diferentes de alguma minha. E isso não é um problema, todo mundo tem o direito de se libertar, se sentir livre.
2. Concordo com a Hannah Arendt e, para mim, também existe a liberdade interior e a liberdade plena. Sendo que, a segunda, só se existe se todas as pessoas conquistarem a primeira. Logo, expor o corpo não é uma forma de empoderamento no contexto do movimento feminista, mas pode ser no individual.
3. Não tenho o direito de anular ou criticar uma mulher que se sente confortável para expor os seios na rua. Não cabe a mim julgar ou desmerecer ninguém. Mas, tenho o direito de ter a minha opinião e achar que isso não é um ato revolucionário feminista. Porque não são todas as mulheres que se sentem confortáveis para fazê-lo.
Por fim, gostaria de deixar claro que, não estou ditando regra, apenas fiz uma reflexão e quis compartilhar aqui, e estou sempre aberta e disposta a ouvir opiniões diferentes da minha. Isso agrega!