
Esse foi o primeiro livro que li, durante a quarentena, e acho que não poderia ter sido em um momento mais apropriado.
O autor de Ideias Para Adiar o Fim do Mundo é brasileiro com descendência indígena (crenaque), Ailton Krenak, e nasceu na região média do Rio Doce, parte da área de sua tribo foi afetada com o rompimento da barragem do Fundão no Distrito de Mariana em 2015.
“Quando a gente quis criar uma reserva da biosfera em uma região do Brasil, foi preciso justificar para a Unesco por que era importante que o planeta não fosse devorado pela mineração. Para essa instituição, é como se bastasse manter apenas alguns lugares como amostra grátis da Terra.“
Ailton Krenak
O livro vai de encontro com o que acredito do início ao fim, e até ilumina alguns fatos que vivi. Por exemplo, quando relatei no meu diário de viagem da Patagônia: “…naquele momento senti que eu e a floresta éramos uma coisa só, me senti, verdadeiramente, parte da natureza…”.
Agora acho até engraçado ter escrito isso, não teria que ser meio óbvio para nós, que somos realmente parte da natureza? Que a floresta, os rios, as montanhas, os humanos e todos os seres que habitam a Terra são uma coisa só? Bom, depois de ler esse livro, tenho certeza!
Acho que o momento é perfeito para se pensar nisso, refletir sobre como estamos tratando e cuidando (será que estamos?) da natureza, de nós mesmos. E foi esse movimento que o livro me impulsionou fazer.
Como posso cuidar de mim? Como posso cuidar da natureza? O que estou fazendo de errado?
“O simples contágio do encontro entre humanos daqui e de lá fez com que essa parte da população desaparecesse por um fenômeno que depois se chamou epidemia, uma mortandade de milhares e milhares de seres.
Um sujeito que saía da Europa e descia numa praia tropical largava um rasto de morte por onde passava. O indivíduo não sabia que era uma peste ambulante, uma guerra bacteriológica em movimento, um fim de mundo; tampouco o sabiam as vítimas que eram contaminadas.
Para os povos que receberam aquela visita e morreram, o fim do mundo foi no século XVI.
Não estou liberando a responsabilidade e a gravidade de toda a máquina que moveu as conquistas coloniais, estou chamando atenção para o fato de que muitos eventos que aconteceram foram o desastre daquele tempo.
Assim como estamos vivendo o desastres do nosso tempo, ao qual algumas seletas pessoas chamam de Antropoceno. A grande maioria das pessoas está chamando de caos social, desgoverno geral, perda de qualidade no cotidiano, nas relações, e estamos todos jogados nesse abismo.”
Ailton Krenak